terça-feira, 23 de dezembro de 2014

23h54

Abro os olhos,
dói-me tudo.
Olho o relógio:
horas incansáveis,
vida sem esteio.
Tranco-me em meu universo
- chave torta, porta pesada -
Pinto as paredes com um
verde-água
e espero o mofo comer
as lembranças.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Eu vou tirar teu gosto da minha boca
com o frescor de outrem.
Eu vou limpar as tuas digitais do meu corpo com o gozo de outros.
Retirei meu coração das gôndolas:
carne podre sem validade

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Eu desfoquei tudo pra deixar teu sorriso límpido.
Borrei os dias, as horas e as dores.
Suprimi as vontade,
deixei teu sangue correr em minhas veias
e teu querer ferir meu coração.
Carreguei teus medos
e os alimentei como se fossem meus.
Fingi na tua realidade, vivi tuas eloquências,
construí teus castelos,
despedacei-me em cem mil pedaços que nem eram meus...
Me reinventei após cada fracasso
e chorei como se tivesse sido o primeiro golpe.
Cortei minhas asas porque você tinha medo de voar...

É,
você tinha...

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Boa viagem, meu amor.
Boa viagem.
Meus olhos afogaram-se em oceanos
enquanto te via partir.
Boa viagem, meu amor.
Até nunca...
Nem um sorriso, uma lágrima,
uma hesitação...
Boa viagem, meu amor.
Que você sofra!
Que o desespero e o arrependimento
te sufoquem.
Boa viagem, meu amor.
Que você rasteje.
Que me veja em cada rosto,
que sinta meu gosto em cada boca.
Boa viagem, meu amor.
Que as lágrimas te ceguem,
que teus soluços ecoem pela casa
e que o tudo não te baste sem mim.
Boa viagem, meu amor.
Que você regresse
e que grite aos quatro cantos
que te amaldiçoei, que sou teu vício, teu fim.
Boa viagem, meu amor.
Que você se renda
e perceba que a dona do teu sorriso sou eu.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Minha dor é incolor,
é amarga,
é travestida de tudo o que não te contém.
Minha dor
grita em cada suspiro,
sussurra enquanto dobro as esquinas,
quando paro nos sinais...
Minha dor
não se aquieta mesmo quando cuspo teu nome com ódio,
nem enquanto me embriago pra te esquecer.
Minha dor
se aconchega em meu peito
igual bichano pedindo colo
e envolve-me com abraços calorosos
relembrando-me os teus.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cartas ao mar #10

Não sei porque ainda sinto tanto a tua falta. Já não sei quanto tempo faz, me perdi até de mim mesma.
Ficou tudo contigo: minhas horas de sono, meu apetite, meu riso frouxo, minha consciência, paciência, sanidade.
Minhas vontades ficaram todas contigo.
Ainda dói,
ainda choro,
sempre.
Ainda sei teu sorriso de cor, teu cheiro, tuas manhas e manias.
Ainda sei todas as tuas expressões e o timbre da tua voz...
Ainda lembro cada curva tua, cada cicatriz.
Ainda lembro de ligar a água quente mesmo não tendo mais porque.
Ainda vou ao marco zero e sento naqueles bancos aos domingo e espero pelo nada.
Ainda como as azeitonas e misturo os caroços... Lembra?

Já não assisto Friends.
Já não ouço Engenheiros.
Elis me sufoca...

Nunca pensei que fosse possível amar tanto e odiar ao mesmo tempo uma pessoa.
Sinceramente?
Não sei se te amo mais por me fazer sentir isso ou se te odeio com maior intensidade.

Ainda não entendo como isso aconteceu... A gente.
Também não entendo o porquê de tudo ter começado.
Só sei que aqui dentro tem uma lacuna do teu tamanho
e vai continuar tendo.
Um metro e cinquenta e seis e meio de saudade, de falta de ar, de incompreensão...

Tô indo embora, mas levo comigo um H no dedo e você na pele.

Deixo contigo meu fardo pulsante e a certeza de um amor desenfreado e verdadeiro.

É pra sempre.
Não duvide.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Senta aqui,
vamos planejar o fim tin tin por tin tin.
Definir quem chora primeiro,
quem rasga as fotos,
quem fica com o carro,
quem quebra os discos, os copos...

Vem cá, senta aqui.
Vamos ver quem fica com as fitas do Bonfim,
com a coleção do Pixinguinha e da Elis,
os souvenirs daquela viagem,
os cartões das festividades.

Foge não, senta aqui.
Vamos planejar tin tin por tin tin
quem as crianças vão odiar,
quem a pensão vai receber,
quem fica com a casa...

Chora não, senta aqui.
Vamos definir quanto isso vai durar,
quem vai deixar de amar
e quem não vai conseguir esquecer.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quarta-feira de cinzas

Tudo começou pelo fim.
O cigarro no cinzeiro,
dois olhos marejados no espelho.
Tudo começou sem sentir.
Os dias sem esteio,
as cores que teimam em não colorir.
E eu escavo, inverto, desejo, apago, subverto o final
sem medo, percebo que o jeito é fazer dos dias carnaval.
Tudo começou por aqui.
O vício nas veias,
o drama caindo como chuva nas telhas.
Tudo faz sentido assim
que os olhos se abrem
e as últimas folhas caem avisando que chegou o fim.
E eu reparo, releio, reescrevo de um jeito insosso o final
e com medo percebo que o jeito é fazer dos meus dias carnaval.

(Mesmo sendo um eterno quarta-feira de cinzas)



terça-feira, 25 de março de 2014

Lágrima lamenta
o correr disforme da dor
que tropeça e envenena,
corta, machuca e inventa desculpas para continuar.
Caminho longo,
sem rumo ou subterfúgio
descarta o atalho. - Sorriso nos lábios?
Felicidade não jaz aqui, nem ali:
Desaparecida em todo lugar.
Cada minuto, impulso: Cortar os pulsos.
Abrir os olhos e ver-se no box do banheiro.
Azulejo branco, torneira aberta,
espelhos por todos os cantos.
Vazio com eco: Ninguém responde.
E eu continuo longe
do que te mantém viva.
Lugares, pensamentos, sentimentos. Ferida
aberta, gangrena, poço de doenças da alma.
Não escuto tua voz;
Não enxergo o teu olhar;
Não sinto o teu cheiro debaixo de toda essa terra.


quinta-feira, 20 de março de 2014

Canção para um dia chuvoso

Chuva, bela chuva, que sussurra em meu ouvido
As dores que um dia jurou deixar pra trás
Com seu rastro rubro que deixou junto as tuas pisadas
Como em um sorriso muito triste que se sobressai.

Chuva que me molha, que alaga os pensamentos
Que embota os olhos e enxarca o coração
Faz tremer de frio as certezas tão inabaladas,
Coisa exata é nascer flores nos jardins da solidão.

Chuva que inunda de tristeza o que toca
Sabe que as lágrimas são marcas do que não passou
Ruge na inocência tua mágoa nunca sarada
De um sentimento que não vingou.